Conceitos Básicos de Gestão do
Conhecimento
Para compreender Gestão do Conhecimento,
deve-se iniciar descrevendo os conceitos de dado, informação, conhecimento,
chegando por fim, ao processo de Gestão do Conhecimento.
Dado pode ter
significados distintos, dependendo do contexto no qual a palavra é utilizada.
Para uma organização, dado é o registro estruturado de transações.
Genericamente, pode ser definido como um “conjunto de fatos distintos e
objetivos, relativos a eventos” (DAVENPORT & PRUSAK, 1998, p. 2).
É
informação bruta, descrição exata de algo ou de algum evento. Os dados em si
não são dotados de relevância, propósito e significado, mas são importantes
porque são a matéria-prima essencial para a criação da informação.
Informação
é uma mensagem com dados que fazem diferença, podendo ser audível ou visível, e
onde existe um emitente e um receptor. É o insumo mais importante da produção
humana. “São dados interpretados, dotados de relevância e propósito” (DRUCKER,
1999, p.32). É um fluxo de mensagens, um produto capaz de gerar conhecimento.
É
um meio ou material necessário para extrair e construir o conhecimento. Afeta o
conhecimento acrescentando-lhe algo ou reestruturando-o (MACHLUP, 1983).
O
conhecimento deriva da informação assim como esta, dos dados. O conhecimento
não é puro nem simples, mas é uma mistura de elementos; é fluido e formalmente
estruturado; é intuitivo e, portanto, difícil de ser colocado em palavras ou de
ser plenamente entendido em termos lógicos.
Ele existe dentro das pessoas e por
isso é complexo e imprevisível. Segundo DAVENPORT e PRUSAK (1998, p. 6), “o
conhecimento pode ser comparado a um sistema vivo, que cresce e se modifica à
medida que interage com o meio ambiente”. Os valores e as crenças integram o
conhecimento pois determinam, em grande parte, o que o conhecedor vê, absorve e
conclui a partir das suas observações.
NONAKA e TAKEUSHI (1997, p. 63) observam
que “o conhecimento, diferentemente da informação, refere-se a crenças e
compromisso“.
Estes autores classificaram o conhecimento humano em dois
tipos: conhecimento tácito e conhecimento explícito.
Conhecimento
explícito é o que pode ser articulado na linguagem formal, inclusive em
afirmações gramaticais, expressões matemáticas, especificações, manuais etc.,
facilmente transmitido, sistematizado e comunicado. Ele pode ser transmitido
formal e facilmente entre os indivíduos. Esse foi o modo dominante de
conhecimento na tradição filosófica ocidental.
O conhecimento tácito é
difícil de ser articulado na linguagem formal, é um tipo de conhecimento mais
importante. É o conhecimento pessoal incorporado à experiência individual e
envolve fatores intangíveis como, por exemplo, crenças pessoais, perspectivas,
sistema de valor, insights, intuições, emoções, habilidades É considerado como
uma fonte importante de competitividade entre as organizações. Só pode ser
avaliado por meio da ação.
Os conhecimentos tácito e explícito são unidades
estruturais básicas que se complementam e a interação entre eles é a principal
dinâmica da criação do conhecimento na organização de negócios.
Segundo
NONAKA & TAKEUCHI (1997, p. 79), para se tornar uma “empresa que gera
conhecimento” (knowledge creating company) a organização deve completar uma
“espiral do conhecimento”, espiral esta que vai de tácito para tácito, de
explícito a explícito, de tácito a explícito, e finalmente, de explícito a
tácito. Logo, o conhecimento deve ser articulado e então internalizado para
tornar-se parte da base de conhecimento de cada pessoa. A espiral começa
novamente depois de ter sido completada, porém em patamares cada vez mais
elevados, ampliando assim a aplicação do conhecimento em outras áreas da
organização.
Espiral do Conhecimento
QUADRO 02 - Extraído de NONAKA, I. &
TAKEUCHI, H., (1997, p. 80) .
Socialização é o compartilhamento do
conhecimento tácito, por meio da observação, imitação ou prática (tácito para
tácito). Articulação / externalização é a conversão do conhecimento tácito em
explícito e sua comunicação ao grupo ( tácito para explícito). Combinação –
padronização do conhecimento, é juntá-lo em um manual ou guia de trabalho e
incorporá-lo a um produto (explícito para explícito) Internalização é quando
novos conhecimentos explícitos são compartilhados na organização e outras
pessoas começam a internalizá-los e utilizam para aumentar, estender e
reenquadrar seu próprio conhecimento tácito (explícito para tácito).
Gestão do
Conhecimento é portanto, o processo sistemático de identificação, criação,
renovação e aplicação dos conhecimentos que são estratégicos na vida de uma
organização. É a administração dos ativos de conhecimento das organizações.
Permite à organização saber o que ela sabe.
A gestão do conhecimento
leva as organizações a mensurar com mais segurança a sua eficiência, tomar
decisões acertadas com relação a melhor estratégia a ser adotada em relação aos
seus clientes, concorrentes, canais de distribuição e ciclos de vida de
produtos e serviços, saber identificar as fontes de informações, saber
administrar dados e informações, saber gerenciar seus conhecimentos. Trata-se
da prática de agregar valor à informação e de distribui-la.
Há alguns desafios
a vencer na Gestão do Conhecimento: influenciar o comportamento do trabalhador,
considerado o maior deles; fazer com que as lideranças da organização comprem a
idéia ; e, por fim, determinar como classificar o conhecimento.
Para
desenvolver os sistemas de conhecimento é necessário ter foco externo
(benchmarking da concorrência), tecnologias facilitadoras (groupware), gestão
de performance (mensuração, recomendação, recompensas para equipes, obrigações
contratuais) e gestão de pessoas (equipes virtuais, comunidade de prática,
coordenadores de conhecimento, busca do perfil do disseminador do
conhecimento).
Há quatro décadas atrás, DRUCKER (1999) já alertava para o fato
de que o trabalho se tornava cada vez mais baseado no conhecimento. “Somente a
organização pode oferecer a continuidade básica de que os trabalhadores do
conhecimento precisam para serem eficazes. Apenas a organização pode
transformar o conhecimento especializado do trabalhador do conhecimento em
desempenho” ( p. 40). Apesar disso, avançou-se muito pouco sobre como se
deveria gerenciar os knowledge workers.
No Brasil, para se transformar as
empresas em "empresas que aprendem" serão necessárias profundas
revisões nos valores das lideranças empresariais nacionais. Esse é o primeiro
passo, e talvez o mais importante.
Os knowledge workers , segundo TERRA (2000,
p. 203), têm algumas questões e desafios a vencer:
a) como mapear o
conhecimento (competências individuais) existentes nas empresas?
b) onde se
encontram as expertises e habilidades centrais da empresa relacionadas às core
competences?
c) como facilitar e estimular a explicitação do conhecimento
tácito dos trabalhadores?
d) como atrair, selecionar e reter pessoas com as
requeridas competências, habilidades e atitudes?
e) como manter o equilíbrio
entre o trabalho em equipe e o trabalho individual e entre o trabalho
multidisciplinar e a requerida especialização individual?
f) como utilizar os
investimentos em informática e em tecnologia de comunicação para aumentar o
conhecimento da empresa e não apenas acelerar o fluxo de informações?
g) quais
sistemas, políticas e processos devem ser implementados para moldar
comportamentos relacionados ao estímulo à criatividade e ao aprendizado?
h)
como incentivar e premiar o knowledge sharing (compartilhamento de
conhecimento) e desencorajar o knowledge holding (que as pessoas guardem o
conhecimento para si próprias)?
i) como tornar a empresa aberta ao conhecimento
externo? Como ampliar e capturar o fluxo de conhecimentos, insights e idéias
provenientes de clientes, parceiros, fornecedores e da comunidade em geral?
Além
disso, um dos principais problemas na gestão do conhecimento é a tendência das
pessoas de reter seus conhecimentos. Mesmo as que não o fazem intencionalmente
podem simplesmente não estar motivadas a mostrar o que sabem.
Para que a
gestão do conhecimento produza efeitos práticos nas empresas, deve estar
plenamente ancorada pelas decisões e compromissos da alta administração a
respeito das iniciativas necessárias em termos de desenvolvimento estratégico e
organizacional, investimento em infra-estrutura tecnológica e cultura
organizacional, que celebre o trabalho em conjunto e o compartilhamento.
A
gestão do conhecimento, ainda segundo TERRA (2000), tem um "caráter
universal", ou seja, aplica-se a empresas de todos os portes e
nacionalidades e a sua efetividade requer a criação de novos modelos
organizacionais (estruturas, processos, sistemas gerenciais), novas posições
quanto ao papel da capacidade intelectual de cada funcionário e uma efetiva
liderança, disposta a enfrentar, ativamente, as barreiras existentes ao
processo de transformação.
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